Projeto Pedra Rolante - Hemeroteca Digital da Rolling Stone Brasil |
2016 - |
O INÍCIO
A história realmente começou em meados dos anos 1990, época sofrida para um menino, filho único de mãe viúva, a qual passava por problemas financeiros após a morte do marido. Sem qualquer capital para poder ter seu primeiro CD player - tecnologia em voga e caríssima naquela época - e com a imensa vontade de imergir no ainda desconhecido mundo da música, aproveita a década na qual donos de coleções de discos realizavam o descarte dos mesmos após a substituição ou conversão do material gravado para o inovador formato digital. Comprando discos usados extremamente baratos, mas ainda sem metas ou gosto musical definido, este menino descobriu a música internacional ao mesmo tempo em que abominava a cultura nacional. Mas, anos depois, no início do novo milênio, este menino, então mais amadurecido e com a curiosidade cada vez mais aguçada por novos conhecimentos, rompe a tensão superficial e imerge na cultura nacional. Descobre um admirável mundo novo, um poço sem fundo de material, onde submerge há quase vinte anos buscando pelo seu fundo. O fundo ainda não se desanuviou. Ô sorte! O CONHECIMENTO Grandes amizades foram feitas nestes quase vinte anos, tanto com comerciantes de discos - verdadeiros connoisseurs da cultura brasileira - quanto com grandes colecionadores. Este menino passou a viver em meio a pessoas as quais foram testemunhas oculares da cena cultural brasileira das décadas de 1960 e de 1970, período este considerado um dos fundamentais para a cultura nacional. Com o compartilhamento de informações entre amigos, soube da efêmera existência do periódico Rolling Stone brasileiro, editado de forma precária e quase que artesanal em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, durando apenas algumas edições em um período de pouco mais de um ano, de novembro de 1971 ao início de 1973. Com conteúdo extremamente rico e denso, poucas edições conseguiram em apenas um ano abordar toda a cena musical e cultural em geral - nacional e também mundial - relevantes culturalmente e historicamente a partir de então. Este menino agora tinha uma meta definida: Tentar conseguir estas edições. A BUSCA Com o passar dos anos o menino percebeu o quanto ingrata estava sendo esta missão. Determinados tipos de papéis não resistem bem ao tempo. Este fato está traçando o destino das poucas cópias restantes destas cada vez mais raras edições: Estão se desintegrando aos poucos após suas décadas de existência. Com o espírito de colecionismo e de preservação histórica correndo em suas veias, aquele menino sentia que precisava reverter esta situação. Mas, durante todos os anos de busca, acabou cruzando apenas com poucas edições avulsas e em péssimo estado de conservação. Percebeu que tentar completar uma coleção tão rara "escavando" edição por edição - caso obtivesse êxito - levaria anos ou até mesmo décadas se progredisse no ritmo no qual as poucas e esparsas edições estavam aparecendo no mercado. Diante deste cenário, o menino acabou por continuar sua busca, sem grandes espectativas ou esperança. O ACHADO Anos mais tarde, ao adentrar em uma das mais importantes e representativas lojas de discos do Brasil, a Tropicália Discos, o menino avista uma sacola estufada com jornais, equilibrada ao topo de uma estante. Bruno Alonso, sócio da loja junto com Márcio Rocha, percebe sua curiosidade e o entrega a sacola. Olhou e percebeu que em suas mãos estava - finalmente - a coleção completa e sem uma única página faltante. Ou quase: Não havia nem sinal da edição mais rara, o famoso número ZERO. Projeto de preservação retomado a partir de que não pôde sair da loja sem o material em mãos, pois sabia que há oportunidades únicas em vida, sendo esta um exemplo. O ZERO A edição de número ZERO foi distribuída gratuitamente em pontos estratégicos da Zona Sul do Rio de Janeiro em novembro de 1971. Consistia em uma edição promocional com a intenção de análise de receptividade para uma possível periodicidade da revista. Realizada de forma caprichada e com um papel de maior gramatura, foi uma cara ação de marketing. Sendo gratuita e de qualidade, poucas edições foram distribuídas e em um curto período de tempo. Pelo fato de ser um produto promocional, presume-se que boa parte foi descartada após a leitura. Poucas foram impressas, poucas foram distribuídas, poucas foram guardadas e menos ainda são as que sobreviveram ao tempo. Graças ao amigo, colecionador e pesquisador musical Nélio Rodrigues, o menino teve acesso ao número ZERO. Nélio recebeu sua edição promocional naquele mesmo novembro, na seção de discos da Sears, loja de departamentos que situava-se onde hoje há um famoso shopping center em Botafogo, Rio de Janeiro. A PRESERVAÇÃO O projeto inicial de preservação consistia em garantir o acesso irrestrito ao conteúdo das edições e com o mínimo de manuseio possível, garantindo assim a preservação física indeterminada das mesmas. A solução se deu através de processos de digitalização, pois além do acesso ao conteúdo do material, as informações estariam perpetuadas e livres de qualquer degradação. Vencido o obstáculo de digitalização das quase mil páginas em grande formato, a etapa de tratamento das centenas de imagens geradas pelo processo também acabou por consumir meses de trabalho. Após inúmeras adversidades e anos de penúria, tanto meta de colecionismo quanto objetivo de preservação foram alcançados. O DESENVOLVIMENTO O menino não estava satisfeito, pois sentiu o compromisso e o dever de compartilhar este material com o mundo. Em uma atitude inédita para com o material em questão, o tornou público. Inspirado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, desenvolveu a base de dados da Hemeroteca Digital da Rolling Stone Brasil, o qual foi batizado de Projeto Pedra Rolante, abrasileirando ainda mais um conteúdo genuinamente brasileiro. OS DIREITOS AUTORAIS Por não possuir qualquer direito autoral sobre a obra compartilhada, inseriu marcas d'água em todas as páginas de consulta, impossibilitando assim a comercialização e a apropriação de conteúdo. Evitou também o reconhecimento óptico de caracteres - OCR - evitando qualquer cópia de texto pelos mesmos motivos citados. O projeto se caracteriza por ser completamente sem fins lucrativos e financiado unicamente pelo criador do próprio, organizado de forma análoga a uma visita presencial ao acervo físico de edições de um colecionador. Sem lucros, sem cópias, sem empréstimos, sem duplicações. Apenas compartilhamento, consulta e preservação. A ENTREGA Após anos de dedicação, o projeto atinge seu objetivo final. Para isto, amigos foram fundamentais. Amigos estes da Tropicália Discos e o amigo Nélio Rodrigues. Esperamos que esta pedra continue rolando e sem obstáculos. |
- O "menino" Cristiano Grimaldi |